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“Com o canto dos grilos
O céu escuro e estrelado
Seguindo das nuvens de serração
Da noite passada
Um senhor já velho se levanta
Com sua calça, chapéu e manta...”
Esse é um trecho do cordel “Um dia de fazenda” escrito pela aluna Rafaela Avelar, do 9° ano do Fundamental II em Valadares. Ele faz parte do livro criado pela gênio durante o projeto Escritor Mirim, desenvolvido em 2017 com todas as turmas do Fundamental II em todas as nossas sedes.
O cordel relata todo o dia vivido pela Rafaela na fazenda da família e encantou o proprietário de uma rede de padarias da cidade, que fez questão de estampar as sacolas de pão com o folheto.
Conhecendo esse gênero literário: cordel
Mas, você sabe o que é um cordel? A literatura de cordel é um gênero literário típico do nordeste brasileiro, trazido ao Brasil pelos colonizadores, frequentemente rimada, com origem em relatos orais e posteriormente impressa em pequenos folhetins que ficavam originalmente dependurados em cordéis (cordinhas).
Esse estilo literário foi trabalhado com os alunos do 8º ano no Escritor Mirim. Na época, Rafaela tinha o desafio de escrever um livro sobre cordel, mesmo não tendo muito interesse.
“Eu não achava graça nem em poemas, mas quando comecei a escrever os cordéis para o Escritor Mirim, vi que tinha capacidade e hoje faço porque gosto”, contou.
O despertar da escrita
A aluna dedicou o folheto ao avô que fez aniversário na época em que estavam na fazenda e que contou a ela que a família tem origem tropeira. Opa! Essa palavra é desconhecida? No Brasil Colonial, os tropeiros tinham uma grande importância econômica. Estes condutores de mulas eram também comerciantes. Comercializavam também alimentos, principalmente o charque (carne seca) do sul para o sudeste.
Como a região das minas estava, no século XVIII, muito voltada para a extração de ouro, a produção destes alimentos era muito baixa. Para suprir estas necessidades, os tropeiros vendiam estes alimentos na região. Os tropeiros também foram muito importantes na abertura de estradas e fundação de vilas e cidades. Daí vem o famoso prato típico mineiro de “Feijão Tropeiro”.
Além disso, o pai de Rafaela relatou que os bisavós faziam cordel e repente. Ela, então, juntou a inspiração da história familiar com a criatividade que esse gênero literário permite e foi desenvolvendo a sua escrita, vendo a importância de se conhecer a literatura brasileira e suas peculiaridades.
“Eu sei que o Cordel tem uma estrutura própria que eu possa até ter fugido um pouco, mas ele abriu as portas para mim, para o meu processo de escrita. A medida em que fui desenvolvendo isso, fui vendo o quanto é válido para o meu conhecimento”.
Em 2018, Rafaela, agora no 9° ano, tem outro desafio pelo projeto Escritor Mirim: escrever um livro usando o estilo artigo de opinião, sobre distúrbios alimentares. Para isso, ela garante que fez diversas leituras relacionadas ao tema.
“Achei o estilo literário muito complexo e o tema, apesar de atual, não tinha ideia de como escrever sobre, mas o interessante é que artigo de opinião irá me ajudar nas redações de vestibulares e exames devido a estrutura”.
Um dia de fazenda
Confira, na íntegra, o cordel escrito peça Rafaela Avelar:
Um dia de fazenda | |
Com o canto dos grilos
O céu escuro e estrelado Seguindo das nuvens de serração Da noite passada Um senhor já velho se levanta Com sua calça, chapéu e manta Minutos depois o sol tímido Dando vista dos seus primeiros raios Acorda a natureza Ainda coberta por orvalho De um em um os passarinhos acordam colocando Ritmo na manhã Que ainda estava parada As galinhas já estão soltas Os bezerros de leite chegam à porta O cheiro de café sobe E a gente se surpreende com a tropa do lado de fora Logo logo se escuta o mugido das vacas A primeira esguichada de leite No balde mostra Mais uma das suas qualidades Com destreza passa o dedo em dois peitos O leite desce enche o balde Que pra ele é mais uma vitória Do novo dia que se nasce Tudo ainda meio azul Da serração que não foi se embora De longe o clarão é visto: -Venha logo sol, não vai se embora!!! Cada qual no seu cantinho acordando Devagarinho Mostrando sua beleza se sobressaindo!! Do meio das grotas grita logo a seriema que não Teima em dar a notícia: -Seus netos estão à vista!! Agora com as vacas de peitos mamados e esgotados Seu copo de café aquele velho senhor vai tomar Sentado em um banco de varanda Para as pernas e o corpo descansar E, se pensa que acabou, só se for de começar Como o beija-flor beija a sua flor Ele, por mais sofrido que seja, ama esse lugar! |
Selas penduradas no paiol
Os cavalos escovados Dois netos já vestidos pra Deixar os animais arriados Com um almoço caprichado Com frango, arroz e quiabo Os netos comem, pois mais tarde irão sair Com tudo pronto e arrumado Com blusa de manga, chapéu e bota Sobem cada um em seu cavalo E começam a traçar a rota Cada vaca em um canto espalhado Os meninos enfrentam espinhos, galhos e até buracos Para ajuntar tudo em um só lugar e para a casa voltar Enrolados por risos, brincadeiras, aventuras e serviços Os netos se divertem E o senhor já velho seu avô Olha tudo de longe com carinho e amor O dia vai indo longe A noite começa a cair Com seu refrescar e calar dos bichos A aparição de sapos e grilos O cansaço toma conta Todo mundo seu rumo toma Acompanhados por Deus que os abençoa Venha noite com lua e estrelas Que com cuidado nos toma As galinhas no poleiro já estão as vacas longe nos morros já se vão Os cavalos já correm livres no campo Cada um achando seu meio de descanso Para fazer com que tudo vá se Continuando Mais um dia se vai! Para que nós descansemos Porque amanhã não se engane Mais um dia nós teremos!!! |
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